Vivendo de brisa: teatro e música reunidos em livro
O espetáculo Vivendo de brisa, uma comédia musical estreou nos palcos em 2019, na capital federal. Agora a peça, acompanhada das 13 canções, chega ao livro, que será lançado no dia 5 de dezembro, quinta-feira, a partir das 19h, na Livraria da Travessa do Casa Park, em Brasília (DF).
De autoria do brasiliense Fernando Marques, professor da UnB, dramaturgo e compositor, que tem em suas obras uma pesquisa minuciosa sobre os musicais brasileiros, a peça é um mergulho na Era de Ouro do rádio. Logo nas primeiras páginas o leitor é convidado a apontar seu celular para o QR code e se entregar ao ritmo de samba-canção, samba sincopado, fox, frevo, baião e valsa. Vivendo de brisa, comédia musical em dois atos, o oitavo livro do autor, é para ser lido e ouvido.
O texto, entremeado por canções que estão nas plataformas e no livro, conta a trajetória de um compositor negro, de origem humilde, que busca se lançar como artista profissional, fazer sucesso e ascender socialmente no Rio de Janeiro. Inspirada livremente nas figuras do fluminense Wilson Baptista (1913-1968) e do mineiro Geraldo Pereira (1918-1955), a peça retrata a ascensão e a queda do compositor e malandro Geraldo de Matos. À época, para obter sucesso muitos compositores precisavam dividir a autoria de seus sambas com intérpretes famosos para conseguir tocar suas músicas nas rádios.
Os diálogos astutos, carregados de gíria, entoações e expressões da época, deixam claro para o leitor qual era o contexto político, social e cultural vigente – a história se passa do final da década de 1930 até meados dos anos 40, em plena Era Vargas. No desenrolar, o que se vê é um personagem sempre na corda bamba, dividido entre dois amores, que encanta com seus belos sambas, mas que desperta a indignação com seu comportamento sorrateiro e antiético.
Vivendo de brisa: a história inventada do compositor Geraldo de Matos (Ed. Perspectiva) é uma obra que procura preencher a escassez de publicações voltadas à dramaturgia musical brasileira, em especial sobre esse período riquíssimo conhecido como a Era de Ouro do rádio, quando este veículo se popularizou e tornou-se um meio de entretenimento no país inteiro.
"Situar o enredo nesse momento histórico é uma escolha estratégica (...), pois direciona o foco de atenção do leitor e do espectador para uma era em que o rádio havia se estabelecido como o grande veículo de massas, e em que o mercado cultural ia pouco a pouco se configurando e deixando suas marcas na fisionomia do país", assinala, na quarta capa do livro, a professora e pesquisadora da USP Maria Silvia Betti.
Para o autor, a ideia foi tratar essa época e os personagens de maneira minimamente fidedigna, entendendo que o que se passava à época, no comportamento e na canção, nos diz respeito até os dias atuais. O que o leitor vai encontrar nas falas extrapola o gênero comédia e vai além do entretenimento. "Relaciona-se à ideia de que fazer arte é uma das maneiras pelas quais contornamos a morte – ou temos ao menos a ilusão de superá-la", revela Marques.
"O velório festivo, chamado gurufim (palavra de provável ascendência africana), praticado sobretudo nos morros e subúrbios cariocas, integra esta peça que quer celebrar a vida mesmo quando ela termina. Estamos, no entanto, numa comédia e, como vocês verão, ninguém morre demais no final", spoiler do próprio autor.
SINOPSE
Comédia musical em dois atos, Vivendo de Brisa retrata o ambiente do Rio de Janeiro de “fins da década de 1930 a meados da década de 1940”, período em que o rádio reinava absoluto e o samba ganhava as multidões, por meio da trajetória de ascensão e queda profissional e “amorosa” de um jovem negro, aspirante a compositor, o sambista Geraldo de Matos – livremente inspirado na figura dos compositores Wilson Baptista (1913-1968) e Geraldo Pereira (1918-1955). Fernando Marques cria uma crônica musical que traz à vida, com humor, mas sem condescendência ou romantismo, a era do rádio, então o grande veículo de massas. Ressurge diante de nossos olhos a época em que viveram e trabalharam os primeiros grandes nomes da nossa música popular, com detalhes do funcionamento do mercado fonográfico, com todos os seus vícios – alguns dos quais perduram até hoje –, e também as relações pessoais baseadas na exploração profissional e no machismo explícito.
Os diálogos ágeis e a qualidade das canções prendem a atenção do espectador – e agora também do leitor – e são bem-sucedidos em evocar o contexto social e cultural em que a ação se passa, um tempo que marcou nosso panorama cultural e deixou um legado duradouro em nossa música.
Autor | FERNANDO MARQUES
José Fernando Marques de Freitas Filho é professor do Departamento de Artes Cênicas da UnB na área de Teoria Teatral, jornalista, escritor e compositor. Fez pós-doutorado em Literatura e História na Universidade de Lisboa com pesquisa sobre ideias humanistas (2017/2018). Publicou os livros Retratos de mulher (poemas, Varanda, 2001); Últimos: comédia musical em dois atos (livro-CD, Perspectiva, 2008); Contos canhotos (LGE, 2010); Zé: peça em um ato (Perspectiva, 2003; 2ª. ed.: É Realizações, 2013); Com os séculos nos olhos: teatro musical e político no Brasil dos anos 1960 e 1970 (Perspectiva, 2014); e A província dos diamantes: ensaios sobre teatro (Autêntica/Siglaviva, 2016). Autor da comédia A quatro, encenada em Brasília em 2008, e das canções do CD De cor (2014), da cantora Wilzy Carioca. Colaborações em jornais como Correio Braziliense, Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, revistas como Folhetim e Cult e sites como Teatrojornal.
Ficha técnica (álbum):
Vivendo de brisa, canções da comédia musical
Composições, voz e violão: Fernando Marques
Piano, baixo, arranjos e direção musical: José Cabrera
Violão: Jaime Ernest Dias
Percussão: Jorge Macarrão
Cantores convidados: George Durand, Indiana Nomma, Laura Lobo e Roger
Vieira
Gravação, mixagem e masterização: George Durand (Durand Estúdio –
Produção & Música). | Ano: 2023/2024
Serviço | Lançamento do livro Vivendo de brisa: a história inventada do compositor Geraldo de Matos
Autor: Fernando Marques
Data: quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
Horário: 19h
Local: Livraria da Travessa, Casa Park, Brasília (DF)
Editora: Perspectiva | 176 páginas
Preço: R$ 52,40
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