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"Traição e fofoca "abafam" atentado nos EUA: quem alimenta este circo virtual?"

Por Lilian Carvalho (*)

As redes sociais são um vasto palco de dramas, tragédias e, vamos admitir, um bocado de entretenimento duvidoso. No último dia 10 de julho, os internautas decidiram vestir o manto do voyeurismo e se deleitar com um espetáculo digno de novela das nove: a cantora Iza, grávida e no auge de sua carreira, anunciou sua separação do jogador Yuri Lima, após descobrir trocas de mensagens picantes dele com uma ex. Sim, meus caros, o drama humano no seu estado mais puro e, ao que parece, irresistível.

Parece mentira, mas a saga de Iza e Yuri conquistou mais de 1,2 milhão de menções nas redes, deixando para trás até mesmo a tentativa de assassinato do ex-presidente Trump, que, pasmem, não passou das 60 mil. Agora, eu me pergunto: desde quando a vida amorosa de celebridades se tornou mais relevante que eventos com potencial de alterar o rumo da política internacional?

A resposta pode estar nas teorias de Robin Dunbar, que sugerem que nosso cérebro evoluiu para ficar obcecado por interações sociais. Sim, estamos programados para adorar uma boa fofoca, especialmente se envolver sexo, status e sobrevivência, os três pilares do nosso interesse mórbido pela vida alheia. E a história de Iza? Bom, ela tem todos os ingredientes de uma trama envolvente.

Então, antes de apontar o dedo para a baixa qualidade dos trending topics, talvez seja hora de uma autocrítica. Somos nós, ávidos por escândalos e dramas, que alimentamos essa máquina de fofocas. A internet apenas nos dá o que queremos e, pelo visto, queremos saber quem traiu quem, quem saiu com quem e, claro, quem está grávida de quem.

No fim das contas, talvez o problema não seja a internet nos tornar ruins, mas sim revelar um apetite por fofocas que nem sabíamos que tínhamos. E aí, vamos continuar alimentando esse ciclo ou é hora de elevar um pouco o nível do nosso entretenimento? A escolha é nossa, mas algo me diz que a fofoca ainda vai render muitos cliques.

(*) Lilian Carvalho é PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP


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