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Pessoas refugiadas encontram no empreendedorismo caminho para reconstruir suas vidas



O mundo tem visto o número de pessoas forçadas a se deslocar crescer significativamente nos últimos 12 anos, chegando a 120 milhões de pessoas que precisaram deixar suas casas e reconstruir suas vidas em outros países. No Brasil, há atualmente quase 800 mil pessoas que vivem no país e necessitam de proteção internacional.

Diante desse contexto, muitas pessoas refugiadas e migrantes enxergam no empreendedorismo uma forma de recomeçar. Foi o caso de Ousmane Mbaye, que deixou o Senegal e chegou ao Rio de Janeiro em 2013. Inicialmente, trabalhou no setor da construção civil, mas em 2015 começou a empreender e fundou o Dior Thiam, dedicado à moda africana.

Ele se formou em Design de Moda pelo Senac e começou a produzir peças exclusivas, como bolsas, roupas e acessórios, utilizando tecidos importados do Senegal. Atualmente, ele atende clientes em seu ateliê em Brasília, faz cenografia para eventos importantes, participa de feiras e entrega seus produtos para todo o Brasil. Ousmane afirma que um dos aspectos mais significativos de seu trabalho é mostrar a força de ser uma pessoa africana no Brasil.

“Temos muito orgulho de ser afrodescendente. Como refugiados e migrantes, a tristeza faz parte da nossa vida, mas a felicidade também. Há formas de mostrar que somos capazes, que somos pessoas que contribuem, inclusive economicamente, para o desenvolvimento desse país. Então, eu faço isso por todos nós”, finaliza.

Ousmane faz parte da Plataforma Refugiados Empreendedores, que reúne 159 empreendimentos liderados por pessoas refugiadas. Com mais de três anos, a iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e do Pacto Global da ONU - Rede Brasil contempla empreendedores em 43 cidades em 16 estados e no Distrito Federal. 

Dia do Empreendedor

Em 5 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa, também conhecido como Dia do Empreendedor. Uma pesquisa realizada com empresários e empresárias da plataforma Refugiados Empreendedores demonstrou o papel central que o empreendedorismo tem em suas trajetórias: “Para 69% deles, o empreendimento representa a principal fonte de sustento de suas famílias. O que comprova que o empreendedorismo é fundamental para que refugiados e outras pessoas deslocadas  à força alcancem autonomia financeira e consigam reconstruir suas vidas com dignidade”, destaca o Oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do ACNUR, Paulo Sérgio Almeida.

É o caso da empreendedora venezuelana Carolina Ramos, que por meio da produção de bolos sustenta seus quatro filhos no Brasil. Ela conta que já fazia doces e tortas para vender na Venezuela, mas retomar a atividade no Brasil não foi nada fácil. Em meio aos desafios impostos pela pandemia e as dificuldades, Carolina lembra que teve que fazer uma pausa na produção de bolos, porque não tinham nem fogão em casa.

Em 2023, ela enxergou uma oportunidade por meio do projeto Mujeres Fuertes, iniciativa do ACNUR, em parceria com Hermanitos e Ministério Público do Trabalho do Amazonas e Roraima (MPT-AM/RR). Após o projeto, Carolina fundou o “Bolos da Karol”, especializado em doces, principalmente decorados e cobertos de pasta americana. 

“Meu marido morreu de câncer em 2024, então fiquei sozinha com meus filhos no Brasil. Mas eu sei que tem alguma coisa boa esperando por mim, aqui tem muitas oportunidades. Meu sonho é expandir meu empreendimento, ter uma loja própria e trabalhar com bolos a pronta-entrega, o que seria um diferencial”, relata.

A gerente de Direitos Humanos e Trabalho do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, Gabriela Rozman, reforça a importância do empreendedorismo para esses grupos que enfrentam desafios adicionais de inclusão, como é o caso das mães solo. “Por isso, a plataforma Refugiados Empreendedores, juntamente com os parceiros, oferece diversos cursos e capacitações para que as pessoas empreendedoras consigam desenvolver seu potencial, crescer e conquistar ainda mais visibilidade para seus empreendimentos”. 

Um desses treinamentos foi realizado em setembro, em conjunto com a Meta, parceira estratégica da plataforma. Cerca de 116 refugiados e migrantes empreendedores participaram do curso online sobre marketing digital, que abordou diversos aspectos, como vendas nas redes sociais e construção de marca digital, além de mostrar ferramentas e recursos do Facebook, Instagram e WhatsApp Business. Dentre os participantes, a grande maioria era de mulheres venezuelanas.

O Sebrae, outro parceiro da iniciativa, também apoia ações da plataforma. Em eventos presenciais da plataforma, a entidade oferece palestras e, em muitos casos, sedia o evento. 

Sobre a plataforma Refugiados Empreendedores

A plataforma Refugiados Empreendedores é uma iniciativa do ACNUR e do Pacto Global da ONU - Rede Brasil e tem como objetivo divulgar e dar visibilidade a empreendimentos liderados por pessoas refugiadas no país, além de apoiar capacitações e outras oportunidades de formação e de divulgação de seus negócios.

Criada em fevereiro de 2021, a plataforma atualmente conta com 159 negócios listados. São 16 nacionalidades que integram a plataforma, sendo que a maioria dos empreendimentos é de pessoas venezuelanas (68%), seguido por Síria (8%) e República Democrática do Congo (8%). As áreas predominantes são Gastronomia (48%), Artesanato (12,5%), Moda (9%) e Design e Arte (8%). 56% dos empreendimentos são liderados por mulheres.


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