Novembro Azul alerta para o diagnóstico precoce do diabetes, que afeta 588 mil brasileiros
Quando se fala em Novembro Azul, o foco muitas vezes se volta para a prevenção do câncer de próstata. No entanto, novembro também é o mês da conscientização sobre o diabetes, uma doença que segundo o Ministério da Saúde é causada pela baixa produção ou má absorção de insulina, hormônio que garante a energia para o organismo e regula a glicose no sangue.
Sua classificação é dividida em tipos 1 e 2. O primeiro ocorre, geralmente, na infância ou adolescência, em consequência da destruição das células que produzem a insulina. Já o segundo refere-se à resistência à insulina e atinge principalmente adultos acima do peso ou com histórico familiar de DM tipo 2. Outros tipos de diabetes podem surgir durante a gestação ou por defeitos genéticos.
Para chamar a atenção de toda a população e de profissionais de saúde sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do controle adequado da doença é celebrado no dia 14 de novembro o Dia Mundial de Diabetes, uma data instituída pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e reconhecida pelas Nações Unidas. Criada em 1991, a data homenageia o aniversário de Frederick Banting que com Charles Best, descobriu a insulina como um tratamento para diabetes, em 1921.
Neste contexto, a campanha reforça a importância do diagnóstico precoce e do cuidado com a saúde, como destaca a presidente do Instituto Diabetes Brasil (IDB), Jaqueline Correa que fundou o instituto em 2021 após a experiência de seu filho, Levi, diagnosticado com diabetes tipo 1, e ressalta que o número de pessoas afetadas por essa condição é alarmante.
"No Brasil, são 588 mil pessoas com diabetes tipo 1, entre crianças e adolescentes. Precisamos de políticas públicas que garantam a proteção e o tratamento para essas famílias. A insulina foi descoberta há mais de 100 anos e até hoje não há uma lei específica que garanta os direitos das pessoas com diabetes tipo 1 no Brasil, afirma”.
O Instituto Diabetes Brasil, localizado em Brasília, surgiu da necessidade urgente de apoio e orientação. Jaqueline que abandonou sua carreira para cuidar de seu filho, percebeu a carência de políticas públicas voltadas ao diabetes tipo 1 no país. “Entendemos que a população vulnerável precisava ser ouvida, pois sua voz era frequentemente silenciada devido às dificuldades no acesso ao tratamento e à ausência de apoio na legislação. O IDB se propôs a ser a voz dessas pessoas, destacando a realidade que elas enfrentam diariamente”, afirmou Jaqueline.
Segundo a presidente do instituto, por meio das redes sociais foi possível promover debates chamando a atenção das autoridades que se comprometem a lutar junto à população em defesa de seus direitos. Além disso, o IDB desenvolve programas contínuos de ações de insumos, medicamentos e alimentos, e também indicamos uma frente parlamentar no qual amplia junto às autoridades possibilidades do amparo legal da população.
Atualmente, o Instituto Diabetes Brasil (IDB) enfrenta desafios importantes na busca por políticas públicas que priorizem a prevenção e o tratamento do diabetes. Um dos principais obstáculos é a falta de comprometimento das autoridades em avançar com importantes projetos de Lei Federal que, no momento, estão estagnados.
“Acreditamos que as políticas públicas devem ser externas para aumentar a conscientização, um passo fundamental para garantir que essa população seja verdadeiramente incluída na sociedade. Além disso, é crucial garantir o acesso a tratamentos adequados, evitando assim complicações relacionadas ao diabetes e melhorando a qualidade de vida de todos”, destaca a presidente do IDB.
Acesso ao tratamento para famílias em vulnerabilidade
Luciana Mourão, estudante de nutrição e mãe de Ana Luiza, que vive com diabetes tipo 1, é fundadora do perfil @ananoseudiabetes e cofundadora do Instituto Tipo 1. Sua trajetória é marcada pela persistência e luta para garantir um tratamento digno para a filha. Em 2020, sua filha foi indicada para o uso de uma bomba de insulina, uma tecnologia essencial, mas de alto custo. Luciana destaca a importância dessa conquista. “Esse tratamento melhorou 100% a qualidade de vida da minha filha, proporcionando menos crises e mais segurança, tanto na escola quanto nas madrugadas. A tecnologia trouxe leveza para nossa rotina familiar, mudando refeições, antes de transmitir medo e tristeza, em momentos de tranquilidade.”
Após várias tentativas judiciais sem sucesso, Luciana encontrou apoio no Instituto Diabetes Brasil (IDB), que possibilitou o acesso à bomba de insulina e aos insumos necessários, impactando diretamente a qualidade de vida de sua família. “O instituto foi fundamental para unir famílias, associações e pacientes, que antes lutavam isoladamente por melhores condições de tratamento para diabetes tipo 1. Essa rede de apoio criada pelo instituto fortaleceu o movimento e gerou resultados significativos, promovendo melhorias para muitas pessoas e incentivando a luta coletiva por direitos.”
A voz das associações e a luta por políticas públicas
No âmbito clínico, a médica Dra. Solange Travassos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB) ressalta que o maior desafio da pessoa com diabetes é não ter fácil acesso ao tratamento indicado para o seu caso. Segundo ela, com a evolução tecnológica e a chegada no mercado das bombas inteligentes e dos novos sensores de glicose com alarmes, o cenário de controle mudou drasticamente.
“Acompanhamos cerca de 150 pessoas com diabetes em uso da bomba de insulina Medtronic 780, incluindo vários casos difíceis, com um controle prévio da glicose muito ruim e hoje temos pouquíssimos pacientes nesta situação. Temos também um número maior de pacientes usando sensores e análogos de insulina com excelente resultado”.
Solange destaca a importância do trabalho do IDB, que tem sido essencial para estabelecer conexões no Legislativo e no Executivo, promovendo uma integração que beneficia toda a comunidade diabética no Brasil o que possibilitou a participação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e da comunidade diabética na formulação e supervisão de política. “Sou uma grande admiradora do Instituto Diabetes Brasil (BID) e, especialmente, da Jaqueline Correa. O IDB desempenha um papel fundamental na fiscalização da atuação do governo em diversos níveis, por meio de denúncias e cobranças no Distrito Federal e em outras localidades".
Michely Arruda Bernardelli, enfermeira e representante da Associação Doce Vida em Lages (SC), destaca os desafios enfrentados em sua região, enfatizando o papel do IDB como uma estrutura de suporte. “Aqui temos muitas dificuldades financeiras e falta de mão de obra voluntária. O instituto nos dá um respaldo gigante, ensinando como projetos articulados e orientando nas nossas lutas diárias”.
Ela destaca os avanços conquistados localmente, como a tramitação de projetos de lei para o atendimento prioritário de pessoas com diabetes. “Ver um vereador sensibilizado pela audiência pública e defendendo um projeto de lei para nós mostra o impacto do nosso trabalho e a importância do apoio do IDB”, reforça.
A nutricionista Ana Carolina Castelo Branco Torelly, voluntária do Instituto Diabetes Brasil (IDB), ressalta a importância do trabalho contínuo do instituto na conscientização sobre a nutrição adequada para pacientes com diabetes promovendo um estilo de vida saudável. “Além das aulas presenciais e gratuitas que o instituto realiza em sua sede em Brasília, ministradas por nutricionistas e profissionais da saúde especializados em alimentação saudável, o IDB também fornece cestas básicas de frutas e legumes como incentivo ao consumo de alimentos frescos e nutritivos”, afirma a nutricionista.
Jantar de Líderes e Autoridades: segunda edição com parcerias legislativas
Outro passo importante dado pelo instituto é a realização do evento "Jantar de Líderes e Autoridades - Diabetes em Foco", em parceria com a Frente Parlamentar Mista para Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Diabetes. Esse ano o tema do encontro será “A importância das políticas públicas voltadas para o diabetes”.
Jaqueline destaca a relevância dessa iniciativa para a melhoria do amparo legal no país. Segundo ela, o Brasil é o terceiro no ranking de custos com comorbidades relacionadas ao diabetes que seriam evitados com o acesso adequado ao tratamento. A parceria com a frente parlamentar amplia a visibilidade das necessidades dessas pessoas e traz novas perspectivas de avanço legislativo.
“Entendemos que a população vulnerável precisava ser ouvida, a suas vozes eram constantemente caladas por dificuldades no acesso ao tratamento e ausência de amparo dentro da legislação, o IDB buscou ser a voz dessa população vulnerável mostrando a realidade vivida diariamente por eles. Através das redes sociais ampliamos esse debate chamando atenção de autoridades que se comprometeram em lutar junto à população em prol dos direitos”.
O IDB possui programas contínuos de doações de insumos, medicamentos e alimentos e a formulação de uma frente parlamentar no qual amplia junto a autoridades possibilidades do amparo legal da população. Segundo a presidente do instituto, o principal objetivo que espera alcançar com o evento é a importância das tecnologias no tratamento do diabetes.
Lucas Leme Galastri, vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), ressalta que a parceria da ADJ com o IDB, a Sociedade Brasileira de Diabetes e outras entidades é fundamental para fortalecer o advocacy em eventos legislativos e promover campanhas educativas que ampliem o acesso a insumos e medicamentos. “Juntos, conseguimos identificar e priorizar as necessidades dos pacientes mais vulneráveis, além de sensibilizar autoridades sobre a importância de garantir esse acesso. Com iniciativas como campanhas de doação de insumos e parcerias com farmácias e laboratórios, temos conseguido levar apoio e recursos a quem mais precisa, promovendo uma saúde mais justa e equitativa para todos os que vivem com diabetes no Brasil”.
Ele ressalta que o evento de líderes e autoridades tem sido essencial para envolver profissionais de saúde, pacientes e legisladores na discussão de práticas que geram impactos reais, além de criar um ambiente mais propício para políticas públicas que atendam às necessidades das pessoas com diabetes.
“Para fortalecer essas parcerias e alcançar mais pessoas com diabetes no Brasil, é essencial aumentar a colaboração entre as diferentes entidades envolvidas. Isso pode ser feito por meio de workshops, treinamentos e campanhas conjuntas que unam esforços e ampliem o alcance das informações. Além disso, a promoção de mais eventos de conscientização e a utilização de plataformas digitais para disseminar informações podem ajudar a atingir públicos mais amplos e diversos”, reforça o presidente da ADJ.
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