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Espetáculo inspirado em romance finalista do Prêmio Jabuti estreia em Brasília


A literatura tem sido fonte inesgotável de inspiração para o teatro. Traduzir a escrita literária para a cena é um desafio e prova que, ao compartilhar a experiência presencial no teatro, intérpretes e público apropriam-se do tema, levando-o a um horizonte de reflexão que extrapola o simples entretenimento. Este é o convite do espetáculo “Baleias”, uma adaptação para a linguagem teatral do livro “O luto da baleia”, escrito por Solange Cianni e um dos cinco finalistas do 65º Prêmio Jabuti, em 2023, na categoria Romance de Entretenimento. Com dramaturgia e direção de Jonathan Andrade, o resultado poderá ser visto a partir do dia 25 de abril, no Teatro Yara Amaral do SESI Taguatinga, num projeto de circulação que ainda vai passar por Gama, Ceilândia e Plano Piloto.  



Em cena está a jornada de uma mãe em busca da cura para a dor causada pela perda de um filho que escolheu morrer. Para abordar um tema tão sensível, a escritora, pedagoga e atriz Solange Cianni se inspirou no costume das baleias orcas de carregar o corpo do filhote morto durante vários dias e por milhares de quilômetros através do oceano até abandoná-lo, num processo de luto e despedida. No livro e agora no espetáculo, a mãe também percorre um doloroso caminho de desapego até encontrar o aconchego para o filho morto nos braços de Nanã, mãe ancestral dos pântanos, senhora da criação e da passagem de luz dos mortos desta vida para outras.


 



O livro “O luto da baleia” foi lançado em 2022, pelo coletivo editorial Maria Cobogó, do qual Cianni é uma das fundadoras, e logo conquistou o mercado, tornando-se um dos mais vendidos do coletivo. “O livro impacta muitos leitores, não só em Brasília, mas em outras cidades do Brasil por conta do tema, que desperta curiosidade, provoca tristeza, superação e solidariedade. Recebo muitas mensagens de mulheres que vivenciaram situações como as descritas no livro ou que conhecem alguém que viveu algo similar”, informa a autora. Solange também revela ser procurada por grupos de apoio a mulheres e clubes de leitura, interessados em refletir sobre o tema.



Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que anualmente mais de 720 mil pessoas escolhem morrer no mundo, sendo a terceira causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Entretanto, o tema do suicídio permanece silenciado, um tabu, sem espaço para o diálogo e para o acolhimento, conforme afirma Solange Cianni: “É um tema sensível e necessário. O tabu e o silêncio sufocam os familiares, que não encontram lugar para ressignificar a dor da perda. Falar, escrever, dramatizar são maneiras de abrir espaço para, minimamente, se refletir sobre isso”. Segundo ela, a adaptação do livro para o teatro, com a abordagem poética que vem sendo concebida por Jonathan Andrade, pode aumentar a possibilidade de debater sobre o assunto. “Isso me interessa muito: o alcance que esta história pode ter é também uma forma de abraçar mães que perderam seus filhos, como a protagonista do livro”, diz.



Na encenação que chega aos palcos, as personagens ganham vida através do trabalho das atrizes Gleide Firmino, Carmem Moretzsohn e da própria Solange Cianni, na pele da mulher-baleia que nada em águas abertas. Ela dá vida à jornada da mãe numa proposta onírica e simbólica. “Teatro para mim é um lugar mágico”, diz Solange. E acrescenta: “Ter Jonathan Andrade como diretor e dramaturgo, com seu olhar apurado, detalhista, seu talento e delicadeza é um privilégio. Estar no palco com atrizes admiráveis e ainda reunir uma equipe técnica primorosa como a nossa, me deixa bastante feliz e entusiasmada. É como se eu estivesse sendo premiada!”



“Baleias” poderá ser visto, com entrada franca, nos dias 25 e 26 de abril, no Teatro SESI Yara Amaral (Taguatinga Norte); nos dias 29 e 30 de abril, no Espaço Semente (Gama); e nos dias 9, 10 e 11 de maio no Teatro Galpão Hugo Rodas do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul. O patrocínio é do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal.  



O ESPETÁCULO


Baleias utiliza os dispositivos do teatro, assim como de imagens projetadas e de uma trilha sonora original para oferecer um olhar sensível sobre o luto que muitas vezes a sociedade tem dificuldade de enxergar e sobre o qual permanece uma névoa. Na encenação, as atrizes buscam uma comunicação direta com o público, revezando personagens, vivendo ora a mãe, ora o filho, ora a baleia... Elas ensaiam e falam de um processo falido na busca para que a literatura se torne teatro. “Queremos fazer do encontro uma poesia visual, alcançar um lirismo na abordagem deste tema, com várias camadas. Atrizes que conversam como cidadãs no mundo e reverberam o que foi a história na literatura e o que foi sendo a nossa história no tratamento da dramaturgia”, explica o dramaturgo e diretor Jonathan Andrade.



Para compor a dramaturgia da cena, o encenador e criador trabalhou sobre o que era ficcional e o que era narrativo no livro (que é baseado numa história real), até criar um espaço de reflexão sobre a existência humana, atravessada por tudo que está vivo. A dramaturgia incorporou ainda os improvisos criados pelas atrizes a partir de trechos do romance.



Mas nada é explícito em “Baleias”. Caberá ao público dispor de suas próprias ferramentas e buscar suas experiências íntimas e entendimentos pessoais para travar um diálogo profundo e honesto com o poema visual apresentado em cena.



“Baleias” conta com trilha sonora composta e gravada por Fernanda Cabral, além de uma trilha original criada e executada ao vivo por Mar Nóbrega. As imagens projetadas têm a assinatura de Marcelo Pontes e as projeções mapeadas são de Aníbal Diniz.



A EQUIPE


JONATHAN ANDRADE – dramaturgia e direção


Artista não-binárie multilinguagem. Escritor, ator, diretor, dramaturgo, cenógrafo, figurinista e bacharel em Artes Cênicas, com habilitação em Interpretação Teatral, pela Universidade de Brasília. É integrante fundador do Grupo Sutil Ato, coletivo de teatro que atua no mercado profissional do DF e nacional há 19 anos. Já assinou a direção de 36 espetáculos, recebendo prêmios com dramaturgias, cenografia e espetáculos. Como diretor e preparador de elenco, investiga o que tem conceituado como dramaturgias celulares, processos de criação e estudos da presença em cena a partir de musculaturas e ossaturas emocionais. Atuou como professor da Faculdade Dulcina de Moraes, onde também foi coordenador pedagógico dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Artes Cênicas, entre 2009 e 2013. Integrou o Aisthesis, coletivo multilinguagem (dança, teatro, audiovisual e performance), a partir de encontros de cocriação e experimentação híbrida de linguagens. Atualmente é também estudante do 8º semestre de psicologia.



SOLANGE CIANNI – autoria e atuação


Solange Cianni nasceu no Rio de Janeiro, é pedagoga, psicopedagoga, escritora e atriz, com especialização em Comunicação e Expressão na Universidade de Barcelona, Espanha, com cerca de 40 anos de experiência em Educação Infantil. Tem seis livros infantis editados e três para adultos. No teatro participou como atriz da montagem de “Gota D’Água”, com Bibi Ferreira, inaugurando o Teatro Dulcina/DF em 1980; trabalhou com diretores teatrais renomados em Brasília como Hugo Rodas, Guilherme Reis, Jonathan Andrade, Fernando Villar, dentre outros. É membro do Coletivo Literário Maria Cobogó, criado em 2018 em Brasília, Brasil, onde mora desde seus 15 anos.



CARMEM MORETZSOHN – atuação


Atriz profissional desde 1980 e jornalista desde 1983. Como atriz, atuou em mais de 40 espetáculos, sob direção de Hugo Rodas, Adriano e Fernando Guimarães, Antonio Abujamra, Guilherme Reis, Fernando Villar, Marcelo Saback, dentre muitos outros, tendo conquistado dois prêmios e o Troféu Prêmio SESC/DF do Teatro Candango, por sua relevância para as artes cênicas no Distrito Federal. Também atua em cinema, desenvolve trajetória como tradutora do espanhol e é uma das curadoras do Slow Filme – Festival Internacional de Cinema e Alimentação e diretora artística do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Como jornalista, atuou para veículos como Correio Braziliense, Jornal de Brasília, TV Globo, SBT e TV Bandeirantes. Hoje, dirige a Objeto Sim Projetos Culturais Ltda, empresa especializada em assessoria de imprensa e produção cultural.



GLEIDE FIRMINO – atuação


Graduada em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília UNB e em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília-UCB, atua como atriz profissional desde 2004. Integra o elenco do grupo Teatro Do Concreto desde 2005, tendo sido indicada, em 2009, ao Prêmio de melhor Atriz no Festival Nacional de Teatro de Macapá, pela atuação no espetáculo “Diário do Maldito”. É atriz colaboradora do grupo Sutil Ato, desde 2011. Desenvolve trajetória exitosa no cinema, tendo conquistado já quatro Troféus Câmara Legislativa de Melhor Atriz, sendo o mais recente em 2024, pelo filme “Via Sacra”, de João Campos, que também recebeu menção honrosa no Festival de Cinema de Gramado 2024. Pela atuação no filme “A Caroneira”, de Otavio Chamorro e Tiago Vaz, conquistou, além do Troféu Câmara Legislativa, uma indicação a Melhor Atriz no Cine Festival Ceará.




ENTREVISTA COM O DIRETOR E DRAMATURGO JONATHAN ANDRADE


1. De que forma você trabalhou a dramaturgia, para um texto que trata de um tema tão sensível?


A diferença entre a literatura e o teatro foi o primeiro grande provocador e desafio. A outra questão é que a autora do livro e atriz do processo, Solange Cianni, fez uma provocação de buscar leveza diante de um tema tão fundo, árido, doloroso e duro que é falar sobre a perda de um filho, falar sobre suicídio, que são questões ainda tabus e que atravessam a gente como sociedade. E na dificuldade de lidar com a morte, com a complexidade que pode vir a ser um suicídio, sob o ponto de vista clínico, biológico, mas também uma questão social, afetiva, emocional, de escolha. Tudo isso está um pouco nesse redemoinho. São palavras e histórias muito densas. Então, essa provocação de buscar a leveza foi muito grande. Fomos buscar outros relevos, texturas, contradições e contrastes para não deixar de levantar esse tema que precisa ser abordado.



2. Qual foi sua maior preocupação para a encenação?


Minha maior preocupação tem a ver com a modulação da literatura para o teatro e encontrar fôlego para um tema que a própria literatura afoga a gente. E conseguir uma comunicação e diálogo a partir para um diálogo a partir da simplicidade da troca, conseguir fazer do encontro para falar disso numa poesia visual, um lirismo para poder abordar esse tema, com ferramentas do teatro e várias camadas. A gente tem atrizes que ensaiam e falam de um processo falido na busca para que essa literatura se torne teatro. Atrizes que conversam como cidadãs no mundo e reverberam o que foi a história na literatura e o que foi sendo a nossa história no tratamento da dramaturgia. O espaço do público que ressoa e reverbera gerando essa água maior de partilha de experiência e vivência para a gente tentar refletir e pensar e a própria história do livro que vai aparecer como corpo de cena, expressivo, atualizado ali, buscando existir como poética corporal, física, gestual. A dramaturgia vai buscar essa complexidade: o que é rito e o que é distanciamento, o que é metalinguístico e o que é ficcional e narrativo, o respeito à literatura e a criação de um outro universo onde ela se insere, como a erosão, a criação da mítica desse grande ensaio e a busca por refletir sobre a existência humana, atravessada por tudo que está vivo. E outras coisas compuseram a dramaturgia e que são importantes, o livro foi improvisado pelas atrizes em provocações dramatúrgicas e a partir desse material outra dramaturgia foi sendo pensada e criada por mim, abraçando esse material criador. Fomos unindo as nossas intensidades para essa literatura em cena.



3. De que forma a encenação se relaciona com o público?


A encenação se relaciona com o público nessa tentativa nossa enquanto linguagem, o teatro é a linguagem da carne, do inter-relacional, humano, que se debruça sobre o assombro, o que se sente, o que é partilhável, o espelhamento, os embates de memória dos corpos que estão dentro. A encenação vai se relacionar de forma poética, delicada, funda, reflexiva, existencial, honesta para que a gente tenha um olhar sobre nós, sobre aquilo que a gente arrasta como vivência de fatos que marcam tanto a gente. A encenação tem o desejo de colocar o público para contemplar a beleza das imagens, dessa poesia visual, que é simples também, despretensiosa naquilo que está se propondo. Um espaço de partilha e reverberação entre aquilo que eu contemplo e o que eu consigo refletir sobre isso, o quanto eu consigo imergir e emergir um pouco do meu olhar sobre a minha própria existência, minha relação com o outro, com a vida, com a morte, com a perda.



4. Como os personagens aparecem/são representados no espetáculo?


Tem várias camadas: o corpo social das atrizes que vai refletir sobre a vida e sobre a relação ética com o personagem que atua, o processo que cria o espetáculo, com o confronto com a história original do livro, com a aproximação e distância disso tudo e todos os papéis que são também dessa atriz. Porque é sobre atravessamentos: o quanto elas vão sendo atravessadas pela personagem da mãe, do filho, elas atualizam isso num tablado de jogo onde a história é vivida. Elas são baleia, mãe, filho e tem também essa camada do audiovisual, que a dramaturgia vai contemplar de uma maneira muito forte, essa outra dimensão que ao mesmo tempo que é cotidiana, é também fantasiosa, onírica, simbólica. Como falar da perda, da morte, da vida sem brincar em várias dimensões? A dramaturgia vai brincar com tudo isso.



5. Como você definiria o formato do espetáculo? Um poema visual?


O formato do espetáculo, ao mesmo tempo que tem o ritualístico, do jogo, da expressão da cena e das imagens, tem também um trabalho documental, tanto das atrizes como do próprio público e mesmo da autora do livro. Talvez a gente possa falar do teatro contemporâneo que vai buscar debater o tema com o público que está ali, um teatro mítico também porque o lirismo narrativo e visual puxa pra isso. É um espetáculo híbrido de linguagens, um poema visual.



6. A encenação faz uso de recursos de imagens projetadas?


O uso das imagens vem na tentativa de ampliar as camadas de sentido, se relacionar com a possibilidade de materializar outras dimensões. O audiovisual que já atravessa o teatro há tanto tempo, colabora a tensionar o sentido da cena, ampliar a dimensão simbólica do trabalho. No nosso caso é um eixo dramatúrgico em si, uma história que o público acompanha a partir das imagens. Uma das personagens existe, em 95% do espetáculo, a partir da imagem que está sendo projetada, que é a mãe que se lança na jornada da entrega desse filho morto a Nanã. Uma jornada de busca por ela mesma, de desapego, de reencontro consigo. Então a gente acompanha esse eixo dramatúrgico que se sobrepõe, se justapõe, que entrecorta e gera fissura na dramaturgia que é executada ao vivo.




FICHA TÉCNICA


Autoria: Solange Cianni


Direção/Direção de arte e Dramaturgia: Jonathan Andrade


Elenco: Carmem Moretzsohn, Gleide Firmino e Solange Cianni


Produção executiva: Alana Ferrigno


Cenografia e iluminação: Jonathan Andrade


Trilha sonora original: Fernanda Cabral e Mar Nóbrega


Iluminação: Jonathan Andrade e Luigi Carvalho


Cinegrafista: Marcelo Pontes


Vídeo mapping: Aníbal Diniz


Fotografia: Pollyana Sá


Design gráfico: Manuella Leite


Assessoria de mídias: Karol Cruz


Patrocínio: Fundo de Apoio à Cultura – FAC, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal


Apoio: Sesi DF e Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul




SERVIÇO



Data: 25 e 26 de abril


Local: Teatro SESI Yara Amaral – Taguatinga Norte


Horários: dia 25, às 20h; dia 26, às 17h e às 20h


ENTRADA FRANCA


 


Data: 29 e 30 de abril


Local: Espaço Semente - Gama


Horários: dia 29, às 20h; dia 30, às 15h e às 20h


ENTRADA FRANCA



Data: 9, 10 e 11 de abril


Local: Teatro Galpão Hugo Rodas do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul


Horários: sexta e sábado às 20h / domingo às 19:00


ENTRADA FRANCA



APRESENTAÇÕES EM CEILÂNDIA


Local e datas: a confirmar


ENTRADA FRANCA



MAIS INFORMAÇÕES: @lutodabaleia (Instagram)



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