Contaminada: polímeros canibais, de Raquel Nava, e A memória de uma pode ser a memória de muitas, de Alessandra França
Duas exposições individuais de mulheres artistas abrem simultaneamente no dia 23 de novembro, às 17h, na Referência Galeria de Arte. Na Sala Principal, Raquel Nava apresenta “Contaminada: polímeros canibais”, com texto de André Torres. Nas pinturas, instalações e fotografia, a artista visual mostra sua mais recente produção, que transita entre o biológico e o sintético. Na Sala Acervo, Alessandra França em sua primeira exposição individual, apresenta “A memória de uma pode ser a memória de muitas “, com curadoria de Ioana Mello. Partindo do registro fotográfico, a artista acessa memórias reais e imaginadas para construir fabulações acerca daquilo que nos une como coletividade e que nos faz indivíduos únicos. As mostras marcam os 29 anos da Referência Galeria de Arte e sua trajetória como uma das principais plataformas de apresentação e impulsionamento na carreira de artistas visuais brasileiros.
Em exibição até o dia 11 de janeiro de 2025, as mostras podem ser visitadas de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte, Bloco B Loja 11, Subsolo, Asa Norte, Brasília DF. Telefone (61) 3963-3501 e Wpp (55 61) 98162-3111. No Instagram @referenciagaleria.
Contaminada: polímeros canibais
De | Raquel Nava
Texto | André Torres
Sala Principal | Referência Galeria de Arte
Raquel Nava investiga o ciclo da matéria orgânica e inorgânica, o natural e o artificial. A diversidade de sua produção está nos experimentos com técnicas e materiais. Em seus trabalhos, sejam pinturas, instalações ou fotografias, Raquel usa a taxidermia e os restos biológicos de animais justapostos a materiais industrializados. Esta é a primeira vez que a artista utiliza essa técnica na pintura. “Na fotografia já havia usado taxidermia e crânios de bichos justapostos a materiais industrializados”.
Por mais de uma década, Raquel frequentou o laboratório de Ciências Biológicas e o Museu de Anatomia da Universidade de Brasília, onde aprendeu a taxidermizar animais mortos. “Não associo a taxidermia a morte de forma tão direta como grande parte do público costuma fazer. Um frango assado ou um bife, também é um bicho morto no nosso prato. Um misto quente tb tem bicho morto. Um presunto, um defunto”, diz.
Entre os trabalhos desenvolvidos para a exposição, uma instalação faz referência à sua pesquisa com o presunto, uma peça em silicone tingido de rosa mediante o uso de corante a base de cochonilha, insetos considerados pragas para as lavouras. “A peça de presunto enquanto objeto de pesquisa, como uma escultura social, que pode indicar formas de consumo e estéticas na maneira de apresentar a morte”, completa a artista.
Muitos dos trabalhos feitos sobre telas antigas expressam o caráter processual das investigações da artista que, mais do que respostas, propõem questionamentos sobre o fazer pictórico, levando o público a duvidar da natureza daquilo que se apresenta diante de seus olhos. Nava também apresenta duas instalações inéditas, uma da série Apresuntados, na qual a forma de presuntos repete-se com diferentes superfícies cromáticas, e a segunda composta por uma capivara taxidermizada.
Segundo o crítico André Torres, responsável pelo texto que acompanha a exposição, os trabalhos de Raquel Nava são motores do estranhamento. Qualquer traço de familiaridade encontrado neles é mais da ordem da projeção, do que do reconhecimento, denunciando o nosso desejo de rastrear, categorizar, mapear e classificar as formas. A materialidade pungente de seus trabalhos se sobrepõe à forma, levando-nos a vagar entre o fascínio e a abjeção, reafirmando, por fim, o interesse radical da artista pela experimentação.
Sobre a artista
Raquel Nava é bacharel em Artes Visuais (2007) e mestre na linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas (Capes 2010-12) pela Universidade de Brasília. Foi aluna da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires/UBA (2005). Trabalhou como tutora à distância e professora supervisora em Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Aberta do Brasil-UAB/UnB (2010-17) e como professora temporária no Departamento de Artes Visuais/UnB (2021-23), onde atualmente é doutoranda. Premiada no 19º Salão Anapolino de Arte e no Transborda Brasília, 2018, participou do 66º Salão Paranaense, do 29° Programa de exposições do CCSP e foi finalista no 7º Prêmio Indústria Nacional Marcantônio Vilaça. Foi contemplada pelo Fundo de Apoio à Cultura para Projetos Artísticos e Culturais do DF em 2017 pela pesquisa “Taxidermia Contemporânea: transformações e apropriações” e em 2021 pela pesquisa “Estomacais: corpos fragmentados e idéias má digeridas”. Foi indicada ao Prêmio PIPA 2018 e participou da comissão de indicação do Prêmio PIPA 2024.
Sobre o crítico
André Torres é escritor e crítico de arte. Mestre em Linguagens Visuais e Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, colabora com textos para revistas como DASartes e Select-Celeste.
A memória de uma pode ser a memória de muitas
De | Alessandra França
Curadoria | Ioana Mello
Sala Acervo | Referência Galeria de Arte
“Em um equilíbrio de força e vulnerabilidade, suas costuras de recordações - visuais, sonoras e táteis - são uma janela para nós mesmos”.
Ioana Mello, curadora
Tendo a fotografia como pano de fundo para a construção de narrativas e fabulações, a produção de Alessandra França, atualmente, parte de uma série de histórias, memórias vividas e imaginadas, criando um espaço de intersecção entre realidade e fantasia. As fotografias autorais recebem intervenções com bordados, colagens e materiais reutilizáveis. Em seu texto sobre a produção de Alessandra França, a curadora Ioana Mello ressalta que: “A formação, a transmissão e o compartilhamento das memórias individuais e coletivas são fundamentais para a compreensão das nossas narrativas presentes. Como cada memória vivida nos afeta e nos faz ser quem somos hoje? Como ela nos conecta, aos outros e à nossa ancestralidade?”
A mostra apresenta duas séries. A primeira, – “Relicário das memórias que me contaram...” -, em que a artista coletou em sua fonte de pesquisas e a dividiu em quatro capítulos. “Experiências imaginadas”, “Pequenas histórias que me contei”, “Minhas saudades passam pelos rios...” e o “Mundo em mim”.
Sobre a segunda série, “Des-nu-dar”, a artista afirma tratar-se de contar a sua própria história. A narrativa dos trabalhos mistura uma “costura” dessas histórias, criam novos significados e reinterpretam o passado ou a reutilização das memórias. “Neles, me utilizo da assemblage, uma técnica que permite criar obras únicas e complexas, combinando objetos e materiais diversificados que vou coletando, colecionando e sendo presenteada com as fotografias antigas, objetos, livros, papéis... Assemblage cria uma camada extra de profundidade e significado”, ressalta a artista. “A escolha dos objetos ecoa com a história, faço experimentações e ajusto a composição.
A curadora ressalta também que à moda de um ritual ancestral, “Alessandra França se une à teia tecida há tempos, desde o mito grego de Penélope”. E completa: “Ela faz reverência às gerações de mulheres e acolhe sentimentos e desejos. Todas essas memórias, contadas e vividas pela artista, e por nós, são o encantamento dos pequenos eventos do cotidiano, mostrando o quanto também somos sujeitos da História”.
Sobre a artista
Artista visual de Itacoatiara/AM, Alessandra França aborda memórias afetivas mesclando fotografias, colagens, bordados e materiais diversos. Sua produção é influenciada pela literatura, a cultura popular, a história oral, a música e as artes plásticas. Foi premiada com Ensaio Fotografia Experimental, no Festival Fotodoc, São Paulo, 2024, e selecionada na convocatória “Qual a sua Amazônia”, tema da 10ª Mostra SP de Fotografia, São Paulo, 2020, e para a Mostra de Portfólio do Festival Foto em Pauta de Tiradentes/MG, 2022. Participou de mostras coletivas como “Brasília a arte do planalto, Museu Nacional da República, 2024 – Brasília/DF, “Handmade: enredos femininos, Centro Cultural Correios, 2024 – Rio de Janeiro/RJ, e “La chair du tourbillon”, La.ima.art, Les Arches Citoyennes, 2024 -Paris, França. Depois de passar por Manaus e Rio de Janeiro, ela vive e trabalha em Brasília.
Sobre a curadora
Ioana Mello é curadora e trabalha entre a Europa e a América Latina. Participa ativamente de festivais e em parcerias com galerias, coletivos e fundações. Em 2019, esteve no Rencontres d’Arles com a exposição “What’s going on in Brazil?” e em 2023 com “Paubrasilia” do artista José Diniz, na Fundação Manuel Rivera Ortiz. Em Portugal, participou dos festivais Diafragma 2021 e Imago 2022 com o coletivo Iandé. Inaugurou a galeria Tryzy, em Lisboa, com a exposição coletiva “Terra Estrangeira”, 2021. É a curadora convidada da Bienal de fotografia da Guiana Francesa para os anos 2024 e 2025. No Brasil, é uma das 6 diretoras artísticas do festival FotoRio e colabora com várias galerias. Fez parte do júri do Sony World Award 2023 e British Journal of Photography 2024. Em Paris, faz parte do comitê de aquisição de fotografias brasileiras para a coleção Bnf e organiza a residência Ithaque para artistas latino-americanos, em 2022. Trabalha com o ensino desde 2014 quando deu aulas na Puc-Rio sobre mercado de arte. Fundou a associação La.IMA e acompanha fotógrafas e dá oficinas sobre mercado de arte, fotografia e curadoria.
Sobre a Referência Galeria de Arte
No dia 25 de novembro de 1995, a Referência Galeria de Arte abriu ao público com uma exposição icônica, que trouxe para Brasília uma exposição inédita de Amílcar de Castro. A essa, seguiram-se várias exposições importantes como as individuais de Athos Bulcão, Carlos Vergara, Claudio Tozzi, e de jovens artistas que hoje são destaque na cena das artes. Com 29 anos de atuação no mercado de arte, a Referência traz para o ambiente da galeria e para espaços institucionais artistas com trajetórias consolidadas, em meio de carreira e iniciantes, em especial de Brasília e do Centro-Oeste.
A galerista Onice Moraes ressalta a importância de apresentar e dar visibilidade aos artistas visuais e curadores da região central do Brasil e de outras regiões fora dos eixos hegemônicos do sistema da arte brasileiro como forma de oferecer ao artista a oportunidade de ter seus trabalhos adquiridos pelo público e pelas instituições.
“As coleções de arte, sejam de colecionadores iniciados ou de iniciantes, precisam incluir os artistas de sua região e de seu tempo. Arte é investimento, é decoração e, acima de tudo, é um registro da história e da reflexão sobre um momento específico dessa construção histórica”, diz Onice Moraes. “Um dos papéis do galerista é orientar a mirada dos colecionadores para esses artistas que produzem em sua vizinhança. Todos podem se beneficiar com a inclusão de artistas da região nas coleções privadas: As coleções ganham importância, ficam mais representativas e diversas”, afirma a galerista.
Serviço:
Contaminada: polímeros canibais
Pinturas, instalações e foto
De | Raquel Nava
Texto | André Torres
Sala Principal
A memória de uma pode ser a memória de muitas
Fotografias com intervenções, colagens e assemblages
De | Alessandra França
Curadoria | Ioana Mello
Sala Acervo
Abertura | 23/11, das 17h às 21h
Visitação | Até 11/01/2025
De segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábado, das 10h às 15h
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Endereço | 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo
Asa Norte – Brasília-DF
Telefone | (+55 61) 3963-3501
Wpp | (+55 61) 98162-3111
E-mail | referenciagaleria@gmail.com
Facebook | @referenciagaleria
Instagram | @referenciagaleria
Comments