Caso no BBB aponta capacitismo na sociedade
Com a chegada do reality Big Brother Brasil, é possível analisar certos comportamentos da sociedade, apesar de ser uma amostra pequena. Na edição atual, um dos participantes é PCD, Vinícius Rodrigues, atleta paralímpico que foi destaque na última edição, em Tóquio.
Ainda no primeiro dia, na primeira prova, outro dos participantes cometeu uma gafe que explicita o capacitismo presente na população brasileira, ao querer dar a Vinícius o apelido de “cotoquinho” em relação a sua perna e ao fato dele precisar usar uma prótese.
O episódio gerou grande reação nas redes sociais, o que aponta uma mudança de mentalidade por parte dos telespectadores, mas ainda é um tema a ser debatido. Apesar de ser atleta de uma das potências paralímpicas, Vinícius não tem o mesmo holofote de atletas sem qualquer limitação, que também sofrem com a falta de incentivos aos seus esportes.
Para o advogado Nilton Serson, defensor das pessoas PCDs, “A ideia de querer usar da deficiência de alguém como característica marcante da pessoa, a ponto de virar apelido, escancara como a população, mesmo que de forma inconsciente, ainda enxerga uma divisão dentro da sociedade. Ainda há a necessidade de explicar como seria bom que os espaços pudessem receber uma pessoa cega ou cadeirante, de explicar como saber Libras é importante, ou de como pessoas neuroatípicas não são ‘atrasados’ ou precisam ser tratados como especiais, de forma degradante”.
O caso de Vinícius é só a ponta do iceberg dos preconceitos que os PCDs ou neurodivergentes sofrem diariamente. Além de não haver conhecimento sobre como cada pessoa sofre com sua deficiência, muitos dados falsos podem ser espalhados, como a crença que o TEA, Transtorno do Espectro Autista, era causado por parasitas. Em 2017, uma mãe foi denunciada por “tratar” seu filho, autista, com substâncias químicas, por meio de enema. Essa prática consiste em inserir produtos, nesse caso, remédios, pelo ânus da pessoa. Ela dizia que isso seria a cura para o autismo do filho e compartilhava a experiência por meio de um grupo no Facebook.
“Além de todas as precauções que uma neurodivergência já traz consigo, a disseminação de fatos mentirosos pode piorar a situação dessas pessoas. Um tratamento sem efetividade, e que pode trazer perigos físicos, tende a causar traumas com mais complicações de serem tratados posteriormente. A falta de conhecimento de qualidade também afeta o crescimento delas. Muitas vezes, ouvimos de filhos que ouviram de seus pais ou familiares que tudo não passava de ‘vagabundagem’, ‘preguiça’, ou outros termos e justificações sem qualquer base na realidade”, explica Serson.
Seja uma limitação mental ou física, o País demonstra como essas pessoas possuem grandes potenciais. O último Parapan, ocorrido em Santiago, no Chile, trouxe para o Brasil um resultado histórico. A delegação enviada aos jogos quebrou o recorde total de medalhas, com 343 medalhas, sendo 156 de ouro, 98 de prata e 89 de bronze. A marca foi batida no penúltimo dia de competições e bateu o recorde de Lima, feito quatro anos antes, em 2019.
No quadro de medalhas, o segundo colocado, EUA, ficou com 166 medalhas no total, menos da metade do feito brasileiro. A expectativa para Paris é das melhores. Em Tóquio, o País ficou em sétimo, melhor resultado registrado, mas a ideia é bater mais esse recorde e 2024 se tornar a melhor participação da delegação, presente desde 1972.
“As participações esportivas já são motivos de orgulho, mas o fato de ser pouco divulgado e de ainda termos problemas com preconceitos e divisões entre os PCDs e as pessoas ‘normais’ nos mostra que a sociedade evolui em passos de tartaruga. São poucas as pessoas com deficiência em lugares de destaque, mesmo com o potencial que possuem. É necessário que nós passemos a prestar mais atenção e melhorarmos nossa relação, entre todos os indivíduos, para que possamos seguir em frente e da melhor forma possível a todos”, complementa Nilton Serson.
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