Ana Rüsche lança seu novo romance Carga Viva com a primeira parada em Brasília
- Rodrigo Carvalho
- há 4 dias
- 4 min de leitura

A premiada escritora Ana Rüsche lança Carga Viva, seu novo romance. Além de marcar os 40 anos da eleição de Tancredo Neves - citado no livro -, Carga Viva faz parte dos lançamentos que comemoram os 50 anos de atividades da editora Rocco. O primeiro lançamento presencial em Brasília acontece no dia 25 de abril, sexta-feira, às 19h, na Livraria Circulares.
O romance Carga Viva entrelaça dois núcleos narrativos conectados por um livro de poesias. O primeiro, ambientado em 1985, apresenta uma história de amor entre dois homens isolados em Ubatuba (SP). Um deles, advogado e poeta, vive seus últimos dias após contrair HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), enquanto o Brasil atravessa o período da eleição indireta de Tancredo Neves (1910-1985), presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, mas não empossado devido à sua morte.
O segundo núcleo se passa nos dias atuais, em São Paulo, onde duas irmãs afastadas precisam viver juntas por conta de um marido agressor e de uma gravidez. A narrativa ocorre em meio ao agravamento da crise climática e ao fantasma do vírus da Covid-19. O elo entre esses dois núcleos é um livro de poesia escrito pelo poeta em 1985 e estudado no futuro por uma das irmãs.
A trama tem um tratamento realista, mas incorpora elementos insólitos, característicos da obra de Ana Rüsche, que discute em sua literatura e textos não ficcionais temas como sustentabilidade e crise climática. Em Carga Viva, o elemento insólito é o "prata viva", substância que, quando ingerida, provoca alucinações, fortalece o sistema imunológico e altera o sonho. Esse elemento permite ao poeta uma sobrevida e, no presente, é consumido por uma das irmãs, despertando reações sociais preconceituosas.
A história se completa com um amigo alemão, dono da casa de praia onde o casal de 1985 se abriga. Ao ser demitido, ele desce a serra para viver uma temporada consumindo o "prata viva" e tendo contato com a poesia pela primeira vez. Essa interseção entre o insólito e o estrangeiro cria um suspense narrativo que altera os rumos das histórias conhecidas, abrindo a imaginação para desfechos alternativos.
O livro terá lançamentos presenciais ao longo de 2025 em cidades como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Referências estéticas
A obra é baseada em eventos políticos expressivos, como a morte de Tancredo Neves em 1985, as Diretas Já, manifestações ocorridas entre 1983 e 1894; e as motociatas bolsonaristas, iniciadas em 2021. Essa abordagem dialoga com a literatura contemporânea de autores, que revisitam acontecimentos históricos, como Maria Valéria Rezende, Mariana Enriquez e Maryse Condé.
Na construção da narrativa homoafetiva, referências importantes foram os textos de Alberto Guzik, Caio Fernando Abreu e João Silvério Trevisan, além da pesquisa histórica de Renan Quinalha e dos ensaios de Eduardo Jardim e Susan Sontag sobre a representação literária sobre HIV/AIDS.
Sinopse
Um livro de poesia une duas histórias: a de um poeta com HIV à beira da morte em 1985 e a de sua leitora, uma professora grávida de um namorado violento. Do início da redemocratização à crise climática, um livro com elementos fantásticos une duas histórias para narrar o Brasil atual.
“Um fio de textura delicada e estranha liga os diferentes tempos deste livro.” — Regina Dalcastagnè, crítica literária
Trecho da obraAntes que os borrachudos o atacassem, no horário fatídico de fim de tarde, o barulho de digitação cessou. Cacá apareceu, sorriu sem óculos e sentou-se na pontinha:
— Queria um cigarro.
A tarde despencava nos morros e os insetos vibrantes da mata subiam com o calor do começo da noite. Os dois já tinham uma linha ensaiada sobre o assunto:
— Se quiser, te dou um trago de cachaça.
Cacá, obedecendo ao roteiro diário, acenou que sim.
O doutor Rossi pode saber de muitas coisas.
Mas da morte sabem os que morrem.
Na previsão médica, Carlos Alberto não veria o Natal ou Ano-Novo. Pois bem, na virada do ano, vestiram branco. Não pularam ondinhas, só dormiram abraçados. Cacá sobrevivia aos soquinhos, sorrindo, sorrindo. Metralhando seus poemas nos bons dias. E pedindo uma cachacinha no cair da tarde. Até a maré do tempo vir lamber a vida com força própria.
Ana Rüsche (São Paulo, 1979)Finalista do Jabuti com A telepatia são os outros (Monomito, 2019), livro vencedor do prêmio Odisseia de Literatura Fantástica. O livro foi publicado na Itália pela FutureFiction com o título Telempatia (2023), com lançamento no Salão do Livro de Turim. À época da publicação, mesmo com a Flip, o Estadão incluiu o livro como um dos “dez livros essenciais” em julho de 2019. Recentemente, um colunista da Folha da área de ciência, Reinaldo José Lopes, sublinhou a hipótese e a pesquisa feita na obra.
Estreou em 2005, publicando poesia, gênero no qual possui quatro títulos. O primeiro foi também publicado no México e uma seleção do Furiosa, publicada nos EUA de forma independente. A prosa poética Do amor: o dia em que Rimbaud decidiu vender armas (Quelônio, 2018) foi finalista do Prêmio Nascente USP.
Foi uma das escritoras convidadas da última WorldCon — World Science Fiction Convention, em Chengdu, China. Possui contos publicados na Coreia do Sul, Colômbia, México, Itália e no Brasil, destacando-se “Canção da autora”, publicado na antologia O dia escuro: Contos inquietantes de autoras brasileiras, organizado por Fabiane Secches e Socorro Acioli (Companhia das Letras, 2024).
Concluiu o Pós-Doutorado em Teoria Literária da FFLCH-USP sobre crise climática e literatura. Realiza o segundo Doutorado na UnB — Universidade de Brasília, na área de ecocrítica . É doutora em Letras pela USP com a tese “Utopia, feminismo e resignação em The left Hand of Darkness (de Ursula Le Guin) e The Handmaid’s Tale (de Margaret Atwood)”. É formada em Letras e também em Direito pela USP, sendo mestre em Direito Internacional. Ministra cursos para diferentes instituições, como o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, a Poiesis e CLACSO — Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Colaborou com o Suplemento de Pernambuco e com a Revista 451 com resenhas e artigos de crítica, entre outros veículos.
Carga VivaEditora Rocco
ServiçoLançamento Carga Viva - Ana Rüsche Data: 25 de abril, sexta-feira, às 19hLocal: Livraria Circulares - Comércio Local Norte 113, BL A, loja 7, Brasília - DF, 70763-510 - Asa Norte
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